Who’s that girl?


Não vou começar aqui escrevendo em terceira pessoa do tipo: Janaína Dutra é física médica, coisa e tal, uma vez que vocês devem imaginar que sou eu mesma que estou aqui lutando com as palavras para tentar escrever algo profissional sobre mim, não é mesmo? Algo que mostre tudo que fiz, mas que não soe presunçoso. Que seja formal, mas não tanto a ponto de que você desista e vá ver TikTok no segundo parágrafo. Então façamos um acordo: eu me esforço daqui e você me dá um pouquinho do seu tempo (e eventualmente paciência) pra me conhecer um pouco melhor, pode ser?

Como ia dizendo, sou física médica e divulgadora científica, além de mãe e amante do carnaval. Atuo na seção de medicina nuclear do Instituto Nacional de Câncer (INCA-MS), sou coordenadora do pod Rio de Janeiro da organização 500 Mulheres Cientistas, faço parte do comitê executivo da organização Women in Nuclear Brasil e sou pesquisadora voluntária na Casinha (uma casa de acolhimento LGBT+). Nessas três organizações trabalho para atrair e manter mulheres na ciência e garantir que a academia seja um espaço seguro, acolhedor e diverso de crescimento pessoal e criação de conhecimento que contemple grupos subalternizados em espaços de decisão.

Concluí o doutorado em 2019 buscando entender a formação do campo científico da física médica pela análise de co-autoria de docentes e pesquisadores na área porque acredito que um campo é formado pelas disputas e colaborações de seus agentes e a percepção deste campo por outras áreas das ciências se dá pelos troféus que o legitimam: os artigos científicos.

Como divulgadora científica, criei o Becquereladas: uma página no instagram (espelhada para o Twitter e Facebook) onde compartilho sobre ciências em geral, especialmente física médica e feminismo. A maternidade atravessa todas essas atividades, uma vez que, ao contrário de ‘O preço do amanhã’ não consigo comprar tempo só gastá-lo, meus filhos são os fios que costuram, embolam, trançam e conduzem minhas conquistas e processos.

E o carnaval? O que tem a ver com minhas atividades profissionais que valha uma menção em uma seção neste site? Bom – non scholae, sed vitae discimus (não é para escola, mas para vida que aprendemos) – ainda não mencionei aqui que sou uma mulher de exatas com um grande espaço no meu coração para as humanidades e a forma como as pessoas se transformam com suas fantasias e como ocupam as ruas e os espaços públicos de forma tão subversiva me ensinaram uma linda forma de microresistência altamente necessária ao labor científico, diga-se de passagem. E mais que isso, o carnaval me ensina que a vida extrapola a ciência e esse por si só já é um fato importantíssimo que me faz valorizar ambas. Obrigada por ter me lido até aqui.




Sobre a foto de capa

Já falei na seção Who’s that Girl que sou uma devota do carnaval, não é? Pois escolhi essa foto e a fotógrafa com muito cuidado e carinho. Ela foi feita no carnaval do Rio de Janeiro, terra onde meus pés pisam e minha cabeça pensa, onde minhas lutas são travadas e meus desejos realizados. Terra também de Michelle, mãe de Roque, fotógrafa do carnaval, da Lapa, de bicicletas e dos meus filhos. Achei a foto significativa, uma menina fantasiada de anjo, assoprando confete como se sua infância pudesse espalhar a esperança de um futuro com os mesmos valores do carnaval carioca. Ela espalha a ocupação da cidade por pessoas de todos os cantos, a equidade que a cidade exala abraçando foliões e foliãs fantasiados no ápice de sua criatividade e expectativa de renovação de um ano melhor que começará após a folia. Está vendo a placa ali no fundo a direita? Está proibido estacionar no passado, na desigualdade, no negacionismo; precisamos nos manter em movimento, na busca, na subversão criativa. E é o que busco na minha carreira e na vida, por isso essa foto falou tão alto para mim.

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