Era sábado de manhã, aqueles dias que os cariocas amanhecem com um sol pra cada um. As vozes de 12 mulheres se misturavam com o barulho do mar, de crianças correndo, de gaivotas grasnando na Praça Mauá, em frente ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Não estávamos ali para um piquenique ou passeio turístico, mas para conversar com as pessoas que passavam sobre nossa ciência do alto de uma caixinha de madeira, claro, se elas quisessem falar conosco.
Subimos em nossas caixas, enchemo-nos de coragem e esperamos as pessoas chegarem. E não é que chegaram? Elas se aglomeravam em nosso entorno, ansiosas por nos ouvir falar. Algumas de nós levamos adereços pra facilitar a fala e o público olhava para as células de crochê, os vírus de pelúcia, as bolhas de sabão que simulavam partículas, com a curiosidade de uma criança de 5 anos.
Ah! As crianças! Não posso deixar de falar do Lucas, um garotinho de uns 7 anos que perguntava e interagia com todas as cientistas. Que alegria conversar com ele e sua família! Por conta deste encontro com a cientista Juliana Cortines (que participou desta edição), ele até publicou um tutorial de dedoches de vírus gigantes na Revista Ciência Hoje das Crianças! Vejam quantas portas se abriram!!! Tivemos a visita de senhoras, de moradores de rua, de adolescentes…senti-me, finalmente, dialogando com a comunidade que financiou meus estudos nas instituições públicas que frequentei.
Se Sotigui Kouyaté estiver certo e a pior coisa do mundo for mesmo a ignorância, é nosso dever social (enquanto cientistas) estilhaçar essa máscara obscura. O mestre da palavra também nos alerta que o maior ignorante “é aquele que não foi ao encontro dos outros”. E nós? Estamos dialogando fora da gaiola dourada da academia? Incluímos as crianças, senhoras, moradores de rua e adolescentes nas nossas práticas? Deixo aqui a reflexão. Responda na medida que te caiba.
Estamos acostumadas a comunicar ciência dentro de ambientes preparados para isso, com apoio de projetores, para uma plateia pré disposta a nos ouvir. Já imaginou o desconforto de se colocar numa caixinha de madeira em um ponto turístico do Rio de Janeiro em um sábado ensolarado? Loucura né? Imaginava que sim quando me coloquei nesse desafio, mas o que descobri ao final do evento, foi que o calor do dia me aqueceu muito menos que a receptividade do público. Fiquei marcada pelo Sol e muito mais pelos afetos que me atravessaram, pela sensação de ser útil e relevante na vida daquelas pessoas que compartilharam aqueles momentos comigo (sentimento raro hoje na academia).
Por isso deixo aqui o convite para a participação no Soapbox Science de 2020. Sejamos abelhas polinizadoras de conhecimento em flores indiscriminadas, deixando nosso saber onde pousarmos e levando perguntas quando sairmos. Convido a colocarmos nosso conhecimento, corpo e alma a disposição daqueles que não estarão ali, inicialmente, para nos ouvir e te garanto que grandes cortinas cairão a sua frente, orientando seu olhar para horizontes desconhecidos e muitos mais amplos que os anteriores. O Soapbox Science acontecerá em três cidades brasileiras: Salvador em 5 de junho, Rio de Janeiro em 18 de julho e Maceió em 22 de novembro. As inscrições para participação estão abertas até 2 de março e podem ser feitas pelo link http://bit.ly/soapbox2020 .